O Elefante retorna e explora a Grande Vitória no início de 2016



COMUNICADO

Por ser um jovem macho ainda sem condições de reivindicar fêmeas nas colônias reprodutivas no círculo antártico, parece que o elefante marinho conhecido como "Fred" escolheu a Grande Vitória como seu território temporário, nessa época migratória. Isso não tem precedentes no Brasil, e tem sido difícil manter o monitoramento constante, em que os voluntários tem se submetido a fome, chuva, sol e ausência de sanitários. Sem perspectiva do animal ir embora, essas atividades serão modificadas para uma estratégia mais branda. É possível que o animal cause surpresas em praias da região, e solicitamos que banhistas sigam essas medidas de proteção (clique no link).



O Elefante retorna e explora a Grande Vitória no início de 2016


No dia 15 de janeiro de 2016 um elefante-marinho-do-sul (Mirounga leonina) macho sub-adulto que tem visitado o ES desde 2012 retornou. É o mesmo animal, reconhecido por suas cicatrizes. Dessa vez o elefante explorou com mais interesse o litoral dos municípios de Vila Velha e Vitória, causando comoção quando aparecia em praias movimentadas. Um dos maiores problema do elefante marinho na Grande Vitória, além do risco de colisão com embarcações e aprisionamento em redes de pesca, foi o assédio da população. O fato de estar trocando os pelos fez com que ao longo dos dias o animal assumisse um aspecto "descascado", em que as cores diferentes entre a pelagem antiga e a pelagem nova formaram um mosaico em sua superfície corporal. Inicialmente utilizando praias do Morro do Moreno, foi adotado pelos moradores locais, que não pouparam esforços para proporcionar medidas de segurança e bem-estar ao animal. Enquanto o elefante permanecia na mesma praia, o IPRAM instalou um perímetro de segurança com cones e fita zebrada, e organizou escala de voluntários que acompanhavam o animal e orientavam os poucos curiosos.







Por ter causado problemas em um lugar onde estava repousando, por mais absurdo que possa parecer, o animal recebeu ameaças. Por isso, por quase um mês foi monitorado 24h/dia por moradores do Morro do Moreno e voluntários recrutados pelo IPRAM, dentre os quais estudantes do GEAS-UVV e representantes do Instituto Sea Sheperd Brasil. Muitas pessoas se submeteram a frio e chuva na madrugada para proteger o elefante marinho de pessoas mal intencionadas. Além disso, a Polícia Militar Ambiental, a Guarda Municipal e a Fiscalização da Prefeitura Municipal de Vila Velha por várias vezes prestaram apoio. 



Os locais que o elefante escolhia para repousar eram mantidos em segredo, para evitar o assédio da população. Mas cada reportagem aumentava o número de curiosos que iam aos locais para ver o animal, muitas vezes desrespeitando as medidas de segurança. Curiosidade: em determinada ocasião, durante a distração causada pelo elefante, criminosos aproveitaram para invadir uma residência próxima.

No dia 22 de janeiro o elefante marinho saiu de um local discreto onde estava repousando sob os olhares de nossos voluntários e fez algumas aparições nas praias mais populares de Vila Velha. O animal nadou entre banhistas e tentou subir até o calçadão, sendo desencorajado por uma barreira visual criada emergencialmente com pranchas de surf e cadeiras que tomamos emprestados (agradecemos profundamente aos surfistas e aos locadores de cadeiras de praias por essa ajuda!). Após retornar ao mar o animal veio margeando lentamente toda a Praia da Costa, em direção à Praia da Sereia. Um voluntário teve que correr na frente e remover banhistas da água, por segurança, antes que o animal chegasse. Felizmente o dia era chuvoso, e a quantidade de banhistas não era muito grande. Ainda assim, as dezenas de pessoas que estavam no local colaboraram e obedeceram às nossas orientações, o que nos deixou muito satisfeitos com a boa vontade dessas pessoas em relação ao bem estar do animal.







No dia 23 de janeiro, mais uma vez o elefante marinho saiu de uma praia segura onde havia passado a noite e se arriscou em uma praia intensamente antropizada, utilizada como cais de embarque e processamento de mexilhões. O animal insistia em subir em um local específico, que continha brasas vivas e estava repleto de ripas de madeira com pregos, dentre outros destroços de metal (perigosos até mesmo para nossa equipe), de maneira que foi necessário montar uma barreira física para desestimulá-lo. Não satisfeito, o animal continuou tentando subir por outros acessos, utilizando uma rampa de embarque para chegar até a rua, e dessa vez não houve procedimento capaz de o desencorajar a subir à rua. Como única alternativa restante, a Guarda Municipal e a Polícia Militar fecharam as ruas adjacentes, impedindo o fluxo de veículos. Após poucas horas, o animal retornou à água e subiu novamente ao local de processamento de mexilhões, sobre uma prancha de madeira, repousando sob os olhares de nossos voluntários até a madrugada, quando retornou ao mar.




 


Confira registros do fotógrafo Antônio Ferrão

 







Na verdade, embora o dia 23 de janeiro tenha sido emblemático, o elefante marinho continuou retornando à Praia do Ribeiro eventualmente, também em fevereiro. O grande problema dessa praia em particular é a inevitável proximidade entre o animal e os curiosos, a existência de fragmentos de madeira e metal enterrados na areia, o constante tráfego, desembarque e embarque de lanchas, jet skis, botes, banana boat e toda sorte de veículo aquático. Os usuários desses meios de transporte não interrompem suas atividades por causa do animal, que para piorar a situação, muitas vezes intenta subir na calçada novamente.

Veja os registros do fotógrafo Mario Candeias


 


 





Em alguns dias o elefante resolveu entrar no canal Bigossi, se expondo a inúmeros patógenos e fragmentos submersos de lixo. Além disso o acesso ao local é ermo e com risco de assaltos. A equipe de voluntários já procurou espantar ele para fora através de estímulo sonoro, por exemplo, utilizando um megafone.

Fotografias de Mario Candeias







Eventualmente o elefante resolveu repousar em uma praia do 38º Batalhão de Infantaria em Vila Velha, o que foi um alívio, pois a equipe de voluntários pôde descansar, enquanto o animal mantinha-se em segurança na área militar. Agradecemos ao 38º Batalhão de Infantaria por nos autorizar o acesso e nos manter informados durante esses períodos.





No fim de sua estadia na Grande Vitória, o elefante marinho ainda entrou em conflito com um pescador e mordeu e estourou uma banana inflável utilizada em atividades recreativas, causando um prejuízo de 12 mil reais ao proprietário. Esses acontecimentos não contribuíram para a reputação do animal, mas o proprietário do banana boat posteriormente concordou que nós humanos é que estamos nos infiltrando no mar e precisamos aprender a conviver com os animais. Dessa forma o IPRAM apoia uma Vakinha criada para ajudá-lo a reduzir o prejuízo, e convida os leitores a contribuir com qualquer quantia, mesmo que 5 ou 10 reais (clique aqui para ajudar).

As fotos em alta resolução são de autoria de Vitor B. Barbosa


Elefante-marinho em conflito com um pescador





Elefante-marinho causando danos ao Banana Boat






Enfim, na manhã de 19 de fevereiro, após 36 dias de estadia na Grande Vitória, o elefante marinho foi nadar e não retornou. A hipótese mais plausível é a de que ele veio para realizar a muda de pêlos e permaneceu em repouso até que a pelagem nova estivesse pronta. Nesse período, embora saísse para nadar com frequência, aparentemente não se alimentou ou se alimentou em pouca quantidade, pois apresentou discreta redução do escore corpóreo.

Nossos mais profundos agradecimentos à Associação dos Moradores do Morro do Moreno, representados pelo seu presidente Carlos Salles, que prestou um precioso apoio durante esses dias e realizou uma última busca embarcada pelo elefante no último dia, com uma bióloga do IPRAM. Agradecimentos aos policiais SG Nivaldo, CB Adeon, CB Sandro e SD Ramom, pela atenção especial com o elefante marinho. A residente no Morro do Moreno, Samara, defensora do meio ambiente também foi uma ajuda essencial para a proteção do elefante, principalmente após o surgimento das ameaças em determinado local. O biólogo Alexandre Wandenkolken da Prefeitura Municipal de Vila Velha nos ajudou nos momentos mais críticos, acionando segmentos da prefeitura quando necessário e também pessoalmente, fosse de dia, de noite ou de madrugada. Agradecimentos especiais ao núcleo capixaba do Instituto Sea Shepherd Brasil, representados pelo Thiago Barrack, que forneceu apoio na escala de voluntários, tanto com fornecimento de pessoal quanto organizando a escala, inclusive nas madrugadas. As nossas atividades foram informadas constantemente à Prefeitura Municipal de Vila Velha, IEMA e IBAMA.